liberta-me a alma...
liberta aquilo que aprisionaste sem meu consentimento...
liberta ou devora-me de uma vez...
liberta o que eu pensei nunca ter dado, o que pensei ser mais pequeno do que é, o que me impede de respirar sempre que abro os olhos para mais um dia...
leio um livro que me lembra constantemente, oiço música que me envia para lá, vejo televisão que me arranca da doce ilusão de esquecimento...
sinto paz na proximidade, inquietude na distância, preocupação na ausência...
ocupo meu corpo e meu tempo com coisas vãs, entretenimentos entre episódios...
não consigo ocupar minha mente...
Insónias fatigam meu corpo com recordações vibrantes, memórias devolvem aos meus olhos o que devia ter ficado para trás... lágrimas lavam meu rosto, tornando-o salgado...
sinto-me roubada de sentimentos, de coragem e de forças...
devolve-me o que preciso para viver, devolve-me o fôlego, a pulsação forte, o desejo...
devolve-me ou devora-me de uma vez...
devolve-me o que já não é mais meu, entrega-me meu coração numa bandeja, minha alma...
se eu pudesse fazer um acordo com Deus...
nem a chuva arrefece meus pensamentos, nem o cansaço apaga as memórias, nem a distância refria meus sentimentos... Sinto-os à distância como se estivessem dentro de mim.
alguma vez se perderam num bosque??
mesmo quando me perdia, nunca me senti tão perdida...
sinto-me numa cena de filme, em que a camara rodopia à volta da personagem dando a ilusão de tontura e desmaio...
sinto a presença forte do espirito, mas a fraca imagem do corpo...
sinto-te presente quando não estás...
invades-me sem aviso, com uma autorização nunca retirada...
consumes o que resta de mim, numa tortura interminável, com a doçura de um olhar ou a surpresa de um sorriso...
reanimas meus sentidos sem um porquê e eu deixo.
passo minha mão na tua face, na miragem de um reflexo...
porque me puxas e me abandonas ao mesmo tempo??
sinto-me marioneta, à mercê de um sentimento, de um delírio febril, que permanece em mim, turvando-me os pensamentos..
devolve-me ou devora-me de uma vez...
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