O vento bate-me na cara....
Não sei há quanto tempo me encontro neste cais, não sei há quanto tempo espero por algo que não conheço, por algo que desconheço, a minha vida toda, por algo que anseio ter, sem nunca ter visto. O meu cérebro trabalha a mil, tenho conversas caladas com o meu alter ego, vejo e revejo conversas antigas, analiso palavras e expressões, movimentos e hesitações; estudo conversas não tidas, conversas a ter, futuras, precisas, o que dizer, o que esperar, no que reparar....
Sinto-me sozinha no meio da multidão, sinto-me esquizofrénica na sociedade, sã num manicómio, sempre fora do lugar, sempre a destoar. Tenho pensamentos vagos, sentimentos fúteis, ilusões presas, desilusões reais...
Gosto do desconhecido, mas tenho medo de arriscar; gosto de ajudar, mas não estendo a mão... Não gosto de abraços. Gosto que me olhem nos olhos, mas tenho medo do que possam ver; sou vazio, com alma...
Pequeno filme, sem conteúdo... Sem expressão, nem lição; apenas pequenos actores, que ao se mexerem, representam.
Cena triste de uma paisagem pitoresca, normal, banal.
Sou eu, nem mais nem menos, mulher, guerreira, amante.
Sou eu, na mais pura essência do ser, no estado mais bruto.
Sou eu, no futuro longínquo, próximo, a mãe, a avó...
Sou eu em estado de construção.