Hoje... não sei

Não sei o que dizer...
Não sei o que escrever, pensar, sentir...
Não sei onde pára o meu chão, o meu pensamento, as minhas forças.
Hoje, a minha mente foi e veio tantas vezes ao passado....
recente, longuíquo, esquecido, já....
Hoje a muralha da China foi-se abaixo, para novamente se erguer,
para novamente cair....
Quis voltar a ser criança, quis voltar à protecção da minha placenta,
quis voltar a ser uma desconhecida para o mundo....
mas não consegui.
Quis desaparecer e não me deixaram....
Quis morrer e deram-me vida....
pouca, suficiente para me manter a respirar,
suficiente para o meu corpo funcionar, mas pouca para viver....
permaneço num coma induzido por mim mesma,
qual médica, que se apercebe que o seu paciente
não está capacitado para a vida, mas não está pronto para a morte.
permaneço vegetativa a ver a vida passar diante dos meus olhos,
impávida e serena, como um pequeno trailler,
que se desenrola com poucos actores, com um cenário fraco,
uma luz miserável...
Um filme mudo, sem legendas:
cada qual interpreta a cena a seu modo,
acompanha a história à sua maneira,
faz o juízo final de acordo com a sua consciência....
Sinto-me pequena, infantil, mesquinha,
despida da minha pele de mulher independente,
fria, completa, racionalista.....
Congelei tudo em mim....
apaguei as velas, não há motivo para festa.
Hoje lembrei-me de uma pessoa...
Era alguém que brilhava mais que o sol,
tinha mais energia que qualquer torre de alta tensão,
era alguém que tinha um amor pela vida e pelos outros
dificil de perceber....
Era... já não é....
Hoje senti falta de ti.