segunda-feira, 2 de maio de 2011

Histórias de encantar 2

"Com o tempo tudo se torna previsível, regular... isso não quer dizer que se torne num hábito enfadonho, ou numa diminuição do amor..." digo-lhe olhando-o nos olhos.
Estavamos a meio de uma conversa inesperada, que surgiu tão depressa como uma tempestade tropical. O que é que aconteceu àquela emoção toda do inicio?? a partir de que momento começaram as dúvidas, que eu não me apercebi?? eram perguntas que passavam pela minha cabeça, sem resposta..
O tempo que passou, pareceu uma eternidade, tudo foi vivido com uma intensidade tal, que pareceu inabalável...
Não podemos querer prender alguém em nome do nosso amor, essa pessoa terá que querer estar ao teu lado e participar na tua vida de livre vontade... agora que revejo aquela cena vezes e vezes sem conta, juntando pitadas de outras cenas e um cheirinho da minha personalidade, apercebo-me que sem querer fi-lo sentir acorrentado, quando só queria que se sentisse livre... agora que vou lembrando os pequenos pormenores, que são sempre os mais importantes, começo a identificar os sinais.... e como os interpretei mal!!!!
Encho mais um copo...
Sentada no alpendre, olhando para o mar, como se de uma grande tela se tratasse, passo vezes sem conta as cenas mais importantes...
quando apenas queria que ele percebesse que a nossa relação deve ser baseada na conversa, na transperência, que eu compreendo as necessidades dele, que o irei apoiar incondicionalmente nos seus sonhos, porque isso o fará feliz, apercebo-me que o sufoquei.. que o pressionei de maneira errada, transpareci uma ideia errada, quando só o queria pôr à vontade para falar.
Lembro-me de o ver partir.... se soubesse, teria dado mais um beijo, um abraço mais apertado, mais um sorriso.
Volto para dentro de casa, está a ficar frio lá fora.
tudo me lembra algo teu, nesta casa, até o cachorro sente a tua falta...
cada canto tem uma história, cada objecto, uma recordação, o que torna quase insuportável a minha estadia aqui... mas ao mesmo tempo não me faz querer partir.
Ainda sinto as tuas mãos a percorrerem-me o corpo, aquele toque quente que me fazia arrepiar.. fraqueja-me as pernas, tenho de me apoiar no sofá.
volto a fechar os olhos para poder voltar a sonhar mais um pouco, voltar ao tempo em que eramos tão felizes... toco no teu rosto... lembraste como gostava de te ver com as mãos?? de passar com a ponta dos dedos pelos teus olhos, pela tua boca, pelo teu cabelo... lembraste quando te enchia de beijos até te rires, perguntavas-me o porquê de tanto beijo... como adoro encher-te de beijos... quer dizer adorava... adorava voltar a adorar...
Vou ouvindo as músicas que adoravamos ouvir juntos, desta vez olhando para uma parede branca. Vejo-te partir vezes e vezes sem conta, na esperança de poder alterar o final deste filme...
Sei que tudo precisa de tempo e espaço para voltar à sua normalidade... não quero voltar a cometer o erro de te sufocar... vou apelar à minha serenidade e à minha paz de alma que me ajudem a seguir em frente, desta vez, e por enquanto, sozinha.
Fomos feitos para viver lado a lado, cada um na sua vida, partilhando a sua vida com o outro... não devemos ser dependentes de alguém.
Devemos querer que alguém faça parte da nossa vida, partilhando com ela momentos, sentimentos, medos e dúvidas. Partilhando a nossa vida e não fazer dela a nossa vida... não devemos viver para essa pessoa, mas com essa pessoa...
Por isso espero que um dia queiras voltar a fazer parte da minha vida, ajudando-me a crescer mais um pouco; espero que um dia queiras voltar a sentir o meu amor...

Entrevista 2: a continuação - um ano depois

eu novamente, um ano depois.... o q mudou??
não mudou grande coisa, continuo muito fiel a mim mesma,
continuo a gostar das mesmas coisas, talvez mais e de mais...
continuo a ter na praia e no mar o meu refúgio, para pensar, meditar, desabar....
gosto de caracois e de diesel, gosto de coisas simples, de ser simples, gosto de ser maleável o suficiente para me adaptar a todo o tipo de situações e pessoas, de conseguir ganhar o à vontade rápido para poder aproveitar todas elas...
gosto de representar, de escrever, de ler...
gosto de crianças, e de me transformar numa quando estou ao pé delas...
gostava de ser mãe, mas primeiro tenho de encontrar o pai e treinar muito... :)
gosto de viajar, apesar de não o fazer frequentemente...
gosto de rugby, de trabalhar no rugby, e de (quase) todos os meus clientes/amigos....
não gosto de ser o centro das atenções, nem que falem de mim...
não gosto de pensar que vou ter que sair do país para poder trabalhar na minha área, magoa-me bastante deixar tudo para trás, deixar as pessoas mais importantes para mim, deixar o meu coração cá, para poder ser alguém no futuro, poder dar um futuro melhor aos meus filhos, à pessoa que ficar comigo... não pretendo ficar longe muito tempo, possivelmente virei com muita regularidade a casa, mas será um ano em que tudo irá mudar....
gosto do silêncio... detesto conversas de encher chouriços!!!
gostava de ter vivido na época de reis e rainhas, mas como uma plebeia.... tudo nessa altura parece ser vivido com muita intensidade de sentimentos, as pessoas não racionalizavam tanto as coisas...
adorava ir às terras altas... não hei-de morrer sem ir lá... adoro gaita de foles... possivelmente desde que vi o braveheart pela primeira vez!!! :)
não gosto de rosas, adoro orquideas, quanto mais selvagens melhor!!
adoro marisco, e de comer... não gosto das minhas oscilações de peso....
adorava poder realizar os sonhos das pessoas de quem gosto....
qual o meu maior sonho?
poder abrir um complexo onde pudesse ter um lar de idosos, uma creche, uma escola de educação especial e uma de artes... juntar os avós com os netos, educar as nossas crianças especiais para que possam ser o que quiserem um dia e apoiar as artes, ensinando e educando desde pequenos, alargando-lhes os horizontes... tudo isto realizável apenas com o euromilhões!!!!! :D
mas é o meu sonho, seria a minha missão de vida... talvez um dia.

o que dizem os meus olhos?

exactamente o q diziam há um ano atrás... tenho saudades de ser feliz e de fazer alguém feliz.. :)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Sentimentos...

Como pode ser possível?
sentir dois sentimentos opostos ao mesmo tempo...
o meu lado racional está contente, porque aos poucos vou conseguindo o que tanto queria, vou melhorando e progredindo...
o meu lado sentimental está de rastos, chorando e sangrando, arrancando a pele que tanto o magoa...
divido-me em duas partes distintas, antagónicas, e não sei qual escolher...
por um lado, quero ir, fazer uma vida nova, longe de tudo o que me traz memórias, que me magoa, viver e crescer, aprender e sentir coisas novas...
por outro, sei que ao partir fecho de vez um ciclo da minha vida, que pode não ter mais volta...
" O que tiver que ser teu, será.." tantas vezes ouvi isto... continuo à espera de algo que seja para mim, verdadeiramente... sinto-me um cachorro abandonado numa vitrine de adopção... vejo os outros a serem levados com amor e carinho, com a paixão de ser algo que realmente queriam e eu vou ficando... olhando através de um vidro, num cubículo, sozinha, sentindo felicidade pelos outros, tristeza por mim...
gostava de ter a calma para esperar por um amanhã melhor, gostava de ter, pelo menos a fé, de que tudo se resolve a seu tempo, a certeza de ter um final feliz... não tenho, nem sinto...
vivo as coisas muito à flôr da pele, muito dia a dia, o agora, o instantâneo... vivo com a dor agora e penso que será com ela que irei acordar amanhã... queria ser feliz agora e não num futuro incerto...
sinto-me desprotegida de tudo, apanhando por todos os lados... os meus agressores são tantos que chego ao ponto de pensar ser só um, desmultiplicado... estou tão cansada que já nem reajo, mas continuo apanhando... meu corpo inerte salta de um lado para o outro, para cima e para baixo, sem ângulo de visão, sem recordações... apenas sinto a dor do contacto bruto...
não sinto paz, apenas turbulência, confusão, tristeza...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

só mais uma...

Sinto saudades de quando era criança...
sinto saudades da protecção do ventre, de quando nada nos afectava a não ser os sentimentos da nossa mãe...
sinto-me num ciclo vicioso da qual tenho a ilusão de sair para depois voltar...
há dias em que sinto que o pior já passou, para depois voltar tudo outra vez...
sinto-me guardada para carregar os males do mundo, sem ter direito a usufruir do prazer, da felicidade...
sinto-me destinada a molhar os lençóis todas as noites de lágrimas e solidão, sem poder contar com o abraço de alguém que está perto, perto o suficiente, ao alcance de uma mão...
Vivo rodeada de gente, mas sempre tão sozinha, rio e sorrio na força da piada, nunca no estado de espirito...
gostava de conhecer o amanhã para saber se algo vai mudar, preparar o espirito para mais embate, ou alegrar a alma por alguma benção...
sinto-me uma criança a quem estão sempre a mostrar o doce e a tirá-lo das mãos...
aquelas mãos pequenas que não têm força para segurar o que lhe é querido, que lhe é tirado com uma violência tal, que deixa marcas...
o medo assola as minhas atitudes, mas o desejo de querer faz com que procure, só para depois sofrer outra vez...
às pergunto-me o porquê... sempre sem resposta...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Welcome to my silly life



Welcome to my life....
estar num dia mau é horrivel já por si, mas é pior quando te põe a pensar na vida, nos acontecimentos, de forma nua e crua... cruel por vezes.
e depois pensamos: há pessoas com problemas maiores e piores que os nossos....
mas depois o teu cerebro cruel lembra-te: com o problema dos outros posso eu bem!!!!
n posso é com os meus...
Segundo o ponto de vista modesto, eu não me posso queixar!!! tenho emprego, cama, comida e roupa lavada... tenho familia e amigos que adoro e que me adoram.... não tenho extravagâncias mas também não tenho divídas.... portanto estamos bem!!!
não, não estamos....
Dar muito mais do que se recebe deixa de ser compensador ao fim de pouco tempo... Poe-nos a pensar se vale mesmo a pena... e as pequenas feridas, tornam-se grandes, e acumuladas, tornam-se insuportáveis!!
Turva-me o pensamento mil e uma imagens, não me deixa raciocinar, reflectir, escutar o que me diz a alma... Tenho tanto para dizer e não digo, apetece-me gritar mas não grito, apetece-me fugir mas não fujo...
E assim deixo correr a minha vida, que não vivo,
deixo passar os sonhos que não tenho, e espero sentada por alguém que não chega...
Olho para trás e nada vejo, são páginas e páginas em branco de um livro que não foi escrito... Uso três para limpar as minhas lágrimas.
Do espectáculo que é a vida, há uns com grande audiência e lotação esgotada, outros vazios... pequenos papéis em outras actuações trazem-te alento, mas não chegam para escrever uma página, tou sem inspiração...
Vivo por viver, falo por falar, fumo um cigarro.
Dá-me tédio, o tédio da minha vida.
Nada chega para te fazer feliz, o que te faz feliz não chega para te dar..
E assim se vive os dias, que passam em branco, sem pontos nem vírgulas, sem interrogações nem exclamações... apenas reticências.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Please



I'm scared.... I'm afraid....
I don't wanna go.... please don't let me go...
why???!!! why now??!!
another choice, another doubt... another wound.
A viagem da minha vida... a oportunidade única...
Era tudo o que eu queria, mas ja não quero.
Quero, mas não nos mesmos moldes....
Why is everything so difficult??!!
Scheiße.....
Não tenho a coragem para o fazer...
Não quero abdicar novamente de uma vida....
da minha vida.... mesmo fazendo parte dela.
Este medo assola os meus pensamentos quase todos os dias...
desaparece quando sou possuida por um Bem que me preenche, que me acolhe.
let's fly.... fly away.
Please fly away with me, every day... don't let me fly alone...
I need your arms to rest... I need your heat around me...
I need the peace that you give me...
Don't make me choose.... let me take both... let me stay with both.
fuck...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Semana das pessoas com necessidades especiais

Esta é a semana das pessoas com deficiências ou necessidades especiais. É pena ser só por uma semana que só é lembrada no primeiro dia.... É pena que ainda seja um tabu social da qual a maioria se envergonha. É pena....
Aquela palavra que mais se ouve quando se fala de deficiência...
Vá-se lá saber porquê a pena dos outros quando nós, deficientes, não temos pena....
Somos assim e pronto.
Falo na primeira pessoa como se tivesse algum tipo de deficiência...
Se calhar até tenho! Aquela deficiência generalizada de não tentar mudar nada porque dá muito trabalho, porque dá!, porque não é o "meu" problema todos os dias...
Vivo com um deficiente motor, que me mostrou ao longo da minha existência que a minha genética pode comportar um gene de coragem, determinação, rectidão, valores... Mas é a minha vivência que vai definir quem eu sou.
Cresci a ver no meu pai um forte, uma muralha...
Quando, aos 4 anos, ele apanha poliomilite, ou paralisia infantil, nada haveria a fazer. A vacina ainda não tinha sido descoberta e pouca informação havia. Mesmo assim, a minha avó não desistiu e correu todos os hospitais do país com ele há procura de uma solução. Houve alguma melhoria, mas nada comparado com o que ele queria... Apesar de não haver amputação, apenas uma das pernas do meu pai se desenvolveu, a outra apenas tem circulação sanguinea.
Ele nunca a perdoou... Ele nunca se perdoou.... Ele nunca O perdoou.
Cresceu vendo a pena à sua volta, revoltou-se quando toda a gente tentava ajudar, atrapalhando mais do que ajudando... Jurou que nunca iria precisar de ninguém para o que quer que seja.. tornou-se num cubo de gelo.
Estudou e pagou o seu curso... Tornou-se numa pessoa respeitável na sociedade alcobacense... Mas o raio da pena continuava na sua sombra.
Conheceu a minha mãe. Namoraram, casaram, tiveram 3 filhos...
O que falta aqui?? Não é a pena, não. Uma mulher apaixonada não sente pena do seu amor, não vê no seu amado a deficência, mas sim o Homem.
O que falta aqui, é o cubo de gelo.
Na tentativa de se proteger, fechou-se em si mesmo, acreditando que não seria possível ninguém gostar dele, pelo que era, mas sim pelo seu dinheiro.
Erro fatal. O amor aguenta tudo, menos a rejeição da parte amada. Se pensarmos nele como um castelo de areia, ele aguentará cm o vento, com a imaginação dos seus construtores, mas nunca quando um constrói e o outro destrói....
Nunca ouvi dele, um obrigado, filha, muito bem, parabens....
o cubo tornou-se num iceberg e já nem ele sabia como partir.
Quase tudo se tornou numa escadaria...
A meio da sua vida, já tinha criado inimigos e amigos de cortesia... amigos não.
Tudo na sua cabeça era uma guerra sem descanso, porque foi assim criado, sempre na luta de algo, sempre a combater o preconceito, a pena, a ignorância.
Dar-lhe um pouco de paz, era a mesma coisa que dar um chocolate a um indígena perdido do amazónia...
A exigência desmedida fez com que conquistasse a revolta dos filhos...
Quando chegou a hora do divórcio, apenas a filha renegada, quis ir de livre vontade, para casa do pai, aos fins de semana. Possivelmente por não ter idade para compreender o porquê de tudo, de não perceber bem as consequências, a guerra que se avizinhava, eu e o meu irmão acabámos por passar anos das nossas vidas a fazer malas e desfazer malas, a escolher entre o natal e a passagem de ano... Quando o meu irmão atinge a maioridade, deixou de escolher. Continuei eu. Veio a exigência a 110%. Foi nesta altura, que percebi quase tudo!! Quando começo a ter que ir às compras lá para casa, quando vou ao café, quando vou à praia... A consciência de que tudo tem um ritmo diferente, uma dificuldade diferente. Ninguém imagina o que uma folha de alface no chão faz debaixo de umas muletas... Nem o que o mármore do chão molhado pode fazer ao esqueleto humano. Ninguém consegue imaginar o que é ir à praia e nunca molhar os pés.
Foi vendo a pena nos olhos das pessoas que percebi a dimensão do mundo dele. Foi ao ouvir as crianças a dizer:" oh mãe o que é que aquele Sr tem?" e o constrangimento da mãe, que percebi a falta de informação que existe neste país, foi neste momento que tive a noção do tamanho do monstro. Foi aqui que nasceu a mulher que sou. Iria ser melhor do que ele poderia esperar, iria tratá-lo de igual para igual, fazê-lo orgulhar-se de mim.
A vida correu, e com a velhice tudo complica e simplifica, clarifica também. A pena continua lá, mas a revolta abrandou, a mágoa desapareceu. A consciência de que o nosso mundo se vai reduzir a quatro paredes e uma janela é aterrorizante, mas o conformismo torna-a tolerável. Não foi isto que quis para ele...
A história dele é tão diferente e tão igual a tantas outras... Muda o cenário, os actores, mas o contexto é igual. A maioria dos deficientes não consegue ter uma vida plena porque a pena, a ignorância, a dificuldade, faz com que tudo seja mais dificil. Consigo imaginar a vida onde qualquer pessoa tem o mesmo direito a viver, a sorrir, a rir. E tudo muda, começa a mudar, quando mudamos a nossa maneira de olhar para as coisas, para as pessoas. Deixo de pensar em mim, para pensar em nós, como um todo. Numa porta grande passa o deficiente e o não deficiente, numa estreita, o deficiente fica à porta.