sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ideias

Apago a luz,
gosto da sensação...
Daqui vejo tudo, mas ninguém me vê,
posso apreciar a vida lá fora;
imagino o que vai no pensamento dos outros,
que problemas os atormentam,
os sonhos que os alimentam,
a felicidade que lhes vai na alma...
Vejo as crianças no parque,
a inocência com que brincam,
com que vêem a vida naquele momento,
a inocência do seu sorriso.
Vejo os idosos na mesa,
a velha amiga que se tornou sua confidente,
a que espera por eles todos os dias,
como se de um amor platónico se tratasse....
Ela sabe as dores das suas almas,
ela sabe o que significa o gesto,
a imagem de um velho sentado na cadeira.
Por ele já passou uma vida,
por ela já passaram tantos iguais,
as mesmas dúvidas, as mesmas mágoas,
a mesma saudade...
No mesmo parque, o ínicio e o fim, juntam-se, tocam-se,
como o céu e o mar no horizonte...
Nesta praia, sinto que vai chover....
sentada na areia, o ar quente de trovoada bate no meu rosto,
a brisa traz o orvalho de mais uma onda que rebenta,
a espuma beija-me os pés, mas não me mexo,
sei que vai chover....
Vai molhar o meu rosto e disfarçar as minhas lágrimas,
vai gelar o meu corpo, purificando-o,
vai lavar a minha alma....
Cada onda que vier, vai levar os meus pesos com ela,
vai rebentar um a um diante dos meus olhos,
com a sua força esmagadora vai torná-los grãos de areia,
que vão voar para onde o vento soprar, para longe de mim...
Gostaria de um dia poder voar também,
por cima do mar e de toda a sua imensidão,
de brincar com ele, sempre que uma onda mais alta
tentar molhar os meus pés,
sentir o vento debaixo das minhas asas,
fazendo-me pairar sobre o gigante
que me fascina e me seduz,
me atormenta e aterroriza,
que tantas vezes tentou levar-me para ele,
mas que acabou por me devolver ao areal....
Sentada à beira mar, inspiro o seu cheiro salgado,
beijo a sua água que cai na minha boca,
agarro a sua orla fugaz por entre os meus dedos....
Sinto que vai chover,
o negro que se aproxima,
traz a fúria de entes separados,
daqueles que anseiam voltar a casa,
para junto dos seus, de volta ao seu lugar...
a pouco e pouco a luz vai-se apagando
e o festim dos céus começa,
de forma ruidosa e efosiva,
finalmente anoiteceu,
apagou-se a luz.... está a chover.

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